Wednesday, June 13, 2007

Arte vs Ciencia



A Arte pode ser vista de 2 ângulos completamente diferentes: como uma abstracção de alto nível, ou como uma intuição de baixo nível.Quando o nosso cérebro está ocupado com qq coisa extremamente absorvente (por ser difícil, complexa, emotiva...) e repentinamente, sem aviso, sem preparação nenhuma, visualizamos um objecto (matéria prima), por vezes imaginamos de imediato qualquer coisa nova, diferente. Acontece quando estamos distraídos a fazer um esboço, ou a tocar um instrumento. É algo que nos vem de dentro, de um local tão profundo que nos é muito desconhecido, e falhamos ao tentar descobrir a origem deste 'Objecto de arte'.Penso que a todo o momento, na actividade criativa artística, esta Intuição está presente. Há quem lhe chame inspiração...Já a criação científica vem de uma abstracção de alto nível.Daí que aqueles que facilmente se 'desconcentram', ou perdem o foco do seu raciocínio esbatendo-o sobre algo recondito e misterioso, têm vocação para artes; por outro lado, há também aqueles que naturalmente seguem com mestria o fio à meada, absorvendo novos conceitos, integrando-os e aniquilando-os para passar ao nível seguinte, e desta forma tornar simples o que é complexo, e deduzir conclusões intangíveis em níveis inferiores. Estes são hábeis pensadores, filósofos ou matemáticos.Todos temos um pouco dos dois.
A visão de David Bohm (Ciência, Ordem e Criatividade) é um pouco diferente uma vez que atribui à criatividade/imaginação um papel fulcral para o desenvolvimento da Matemática e da Ciência no geral. Esta criatividade é alimentada pela associação livre através de metáforas, por exemplo, e é sustentada pela coexistência de teorias substancialmente diferentes.A comunicação assume um papel fulcral, eu diria mesmo elementar, pois é indissociável da ideia abstracta. A teoria relaciona termos, muitas vezes com um significado quase inconsciente ou subentendido, mas sempre presente. A própria palavra "significado" subentende comunicação.Seria como fazer uma música que não é para ser ouvida; ou uma pintura invisível; ou um teorema que relaciona objectos desconhecidos por uma relação desconhecida.Daqui advém também as suas conclusões sobre o "efeito travão" que determinada linguagem ou gíria pode ter sobre a concepção de novas visões, paradigmas. A linguagem é portanto um elemento nuclear da abstração, caracterizado por ter intrinsecamente forte memória.
Interessante também observar, e em contraponto com a ideia inicial da divisão Arte vs. Ciência, os princípios budistas da Meditação. Segundo estes, a meditação procura um vazio mental, alegando que através deste se consegue atingir um profundo conhecimento do Eu. Alega também que este vazio mental é quanto basta para estimular a criatividade. Ao esvaziarmos a nossa mente estamos a criar espaço para novas ideias surgirem; estamos também a limpar velhos conceitos e paradigmas para que os novos possam surgir; por outro lado, estamos a atingir uma abstracção de baixo nível, ou visualização crua, que acima referi como condição para a criação artística.
Neste sentido, inclino-me a unificar a criatividade, e a ver a arte e a ciência como duas faces da mesma moeda; ou melhor, como duas faces da mesma face.

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